Redação Portal Fronteiras
21 de set de 20203 min
Resultado do levantamento realizado na população de Foz do Iguaçu reforça pesquisas recentes que indicam que não há imunidade coletiva de longo prazo para o novo coronavírus
Os testes são realizados no Laboratório de Tecnologia de Desenvolvimento de Vacinas e no Laboratório de Bioquímica e Microbiologia da UNILA
O último inquérito sorológico realizado na cidade de Foz do Iguaçu para detectar a porcentagem da população que já teve contato com o Sars-Cov-2 mostrou um declínio acentuado na taxa de pessoas com anticorpos para o vírus que causa a Covid-19. Nos testes realizados no dia 3 de setembro, a taxa de soroconversão foi de 21,1%. No inquérito anterior, realizado em 24 de julho, o índice era de 37,21%. De acordo com o coordenador da pesquisa, o professor da UNILA Kelvinson Viana, esses dados podem reforçar alguns estudos recentes que indicam que parte da imunidade ao Sars-CoV-2 pode perder efetividade após três meses de infecção.
“Isso indica que é possível termos que conviver com o vírus de forma permanente, que não há imunidade coletiva de longo prazo e que a vacinação deverá entrar no calendário obrigatório de imunizações e, certamente, precisaremos de reforços anuais, como acontece com o H1N1”, explica.
O levantamento começou a ser realizado em Foz do Iguaçu no mês de maio, em uma parceria da UNILA com o poder público municipal. Na época, o inquérito sorológico mostrou que os níveis de anticorpos da população estavam em 4,4% no dia 15 de maio, subindo para 28,02% em 9 de junho. No mês de julho, a taxa continuou ascendente, alcançando 35,36% no dia 3 e 37,21% em 24 de julho. O inquérito do início do mês de setembro foi o primeiro que mostrou queda na taxa de soroconversão. Os dados foram publicados no terceiro informe do Grupo de Projeções da Covid-19 da UNILA. Leia, na íntegra, aqui.
De acordo com Kelvinson Viana, os inquéritos sorológicos seguem o princípio da aleatorização nas coletas, tem 95% de intervalo de confiança e margem de erro de 5%. A quantidade de amostras também é calculada com base na população da cidade. Essa metodologia, que é a mais indicada para fazer estudos epidemiológicos em populações, garante resultados fidedignos. “Quando a taxa de anticorpos estava em 35% e foi para 37%, isso estava dentro da margem de erro, mostrava que no mês de julho a soroconversão tinha se estagnado na população. Uma queda de 37% para 21% ultrapassa a margem de erro e nos mostra que, por volta de três meses depois das pessoas terem entrado em contato com o vírus, há um grande declínio nos níveis de anticorpos no sangue”, salientou.
Os resultados do inquérito sorológico de Foz do Iguaçu vão ao encontro dos dados publicados por outros grupos de pesquisa sobre o comportamento do sistema imune frente ao coronavírus. “Recentemente, um trabalho publicado na Nature Medicine mostrou que o comportamento da soroconversão em pessoas que entraram em contato com as quatro variantes de coronavírus sazonais é de perda da titulação, com novo aumento da produção de anticorpos após novas reinfecções. Além disso, indicou que, para estas variantes, há de uma a duas reinfecções por ano, ou seja, mesmo as pessoas tendo algum nível de anticorpos circulantes no sangue, isso não impede as reinfecções”, aponta Viana. O pesquisador alerta também que, embora tenham poucos relatos de reinfecção com o Sars-CoV-2 nas populações, “este é um panorama provável ao longo dos meses”.
Mesmo quem já contraiu Covid-19 precisa manter os cuidados
Os resultados das pesquisas mais recentes sobre a Covid-19 reforçam a necessidade de manter os cuidados sanitários. Adotar hábitos como o uso de máscara em público, o distanciamento social e a higienização constante de mãos e superfícies, é a forma mais eficaz para evitar uma infecção com o Sars-Cov-2.
A docente do curso de Enfermagem da Unioeste Mara Ripoli, que também faz parte do GT de Projeções da UNILA, adverte que mesmo pessoas que já pegaram e se recuperaram da Covid-19 precisam ser rigorosas com os cuidados sanitários. “Quando em uma casa um morador testar positivo para Covid-19 através do exame RT-PCR, todas as pessoas que moram na mesma casa devem também ficar em isolamento domiciliar, mesmo aquelas que já tiveram a doença. Isso porque a Covid-19 é uma doença nova e as pesquisas científicas sobre o desenvolvimento da imunidade e a duração dessa imunidade ainda estão em andamento”, orienta.